O objetivo é criar valor económico, social e cultural reforçando a ligação entre ensino superior e empresas
Isabel Ferreira lidera no Instituto Politécnico de Bragança (IPB) um projeto que precisa de uma nova forma de organização, um grande laboratório aberto que ponha a cooperar parceiros diversificados com um objetivo comum: “Transferir o conhecimento gerado no IPB para o tecido económico, social e cultural da região.” O projeto chama-se Montesinho Montanha de Investigação e pretende aproveitar o conhecimento científico regional para valorizar toda a área da Serra do Montesinho — onde fica Bragança — em sectores tão diferentes como a conservação da biodiversidade, agroindústria, floresta, alterações climáticas, património histórico e cultural ou turismo. E os seus parceiros já decidiram que “a melhor forma de organização é um laboratório colaborativo”, explica a professora e investigadora ao Expresso. É um novo tipo de laboratórios que têm estado a crescer rapidamente em países como o Reino Unido (Catapult Institutes), França (Carnot Institutes), Holanda (TNO), Espanha (IMDEA) e Alemanha (Fraunhofer Institutes). O objetivo é juntar em consórcio centros de investigação, laboratórios associados, instituições do ensino superior, centros tecnológicos, empresas, associações empresariais, laboratórios do Estado, autarquias, associações locais, hospitais, museus, arquivos e instituições sociais. Em Portugal, o conceito de CoLAB foi lançado oficialmente na quinta-feira no Páteo da Galé, em Lisboa, no âmbito da apresentação pelo Governo do Programa Interface, perante uma plateia de quase mil pessoas. O primeiro ministro, António Costa, considerou a iniciativa “a mais importante do ponto de vista estratégico do Programa Nacional de Reformas”.
Transferir conhecimento
O Interface apoia a transferência de conhecimento e tecnologia das instituições do ensino superior para as empresas e os CoLAB são laboratórios em que podem participar entidades nacionais e internacionais, para desenvolver agendas de investigação e de inovação orientadas para a criação de valor económico, social e cultural. Agendas que incluem a internacionalização da capacidade científica e tecnológica portuguesa, estímulo ao emprego científico e actividades de investigação que reforcem as sinergias da sociedade com universidades e politécnicos. A apresentação do Interface coube aos ministros Pedro Marques (Planeamento e Infraestruturas), Manuel Heitor (Ciência) e Manuel Caldeira Cabral (Economia). E foram lançadas ideias de CoLAB precisamente pela bioquímica Isabel Ferreira (valorização económica de produtos naturais e investigação de montanha) e também pelo patologista Manuel Sobrinho Simões, do instituto I3S da Universidade do Porto (investigação clínica e inovação biomédica). “Estamos a dar um novo passo para modernizar o sistema científico nacional com esta forma inovadora de colaboração entre empregadores e produtores do conhecimento”, afirmou Manuel Heitor, “e temos de criar mais redes deste tipo que permitam criar emprego qualificado, à semelhança do que se passa no resto da Europa”.
Projeto em Bragança
Um dos projetos mais avançados da CoLAB é o liderado por Isabel Ferreira, coordenadora do Centro de Investigação de Montanha (CIMO), o único do género no país. “O que os autarcas querem deste projeto é que o conhecimento produzido no laboratório colaborativo esteja ao serviço das populações locais e do desenvolvimento económico de toda a região, nomeadamente do turismo”, afirma Américo Pereira, presidente da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes, um dos parceiros do futuro CoLAB. Américo Pereira, que também é presidente da Câmara de Vinhais, acrescenta que as expectativas dos autarcas “são boas, porque a região tem produtos agrícolas de grande qualidade vendidos nos mercados nacional e internacional”. Por outro lado, “o turismo está a crescer, em especial o turismo da natureza, bem como todas as atividades produtivas ligadas à montanha, como energias renováveis, floresta, proteção da biodiversidade, caça e pesca”.Estas atividades “podem criar emprego e riqueza, desde quese potencie o conhecimento geradona região, em especial no Politécnico de Bragança”. O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, salienta que “não basta haver cientistas a trabalhar no terreno e a apresentar dados, porque para estes projectos terem sucesso é preciso haver uma articulação e colaboração efetiva entre os vários parceiros, de modo a que sejam criadas dinâmicas de aproveitamento do potencial económico, social e cultural dos territórios de montanha de toda a comunidade intermunicipal”. A Câmara de Bragança vai participar no CoLAB através do Brigantia-EcoPark, parque de ciência e tecnologia com empresas “que apostam nos pilares próprios da região, desenvolvendo projetos de base tecnológica de baixo impacto ambiental no ecoturismo, ecoenergia, ecoconstrução e ecoprodutos”. A região “precisa muito do conhecimento científico na agricultura e na floresta para adaptar as zonas de montanha às alterações climáticas, porque com o aumento das temperaturas e dos períodos de seca, os castanheiros, por exemplo, estão a abandonar as altitudes mais baixas”, argumenta Berta Nunes, presidente do ZASNET, outro parceiro do futuro CoLAB. Este Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial gere a Reserva da Biosfera da Meseta Ibérica, que abrange as regiões do Nordeste Transmontano, Zamora e Salamanca. E pretende “apoiar o desenvolvimento de atividades económicas sustentáveis, compatíveis com a biodiversidade, que possam valorizar os territórios”. O projeto do regulamento de atribuição do título de Laboratório Colaborativo está disponível no site da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) para consulta pública. A sua criação passa por duas fases: abertura de concurso público para avaliação e selecção de propostas a que possa ser atribuído o título; e abertura de novo concurso público para financiamento das atividades a desenvolver, em especial através de fundos europeus.